Indignações a parte, me
lembrei de que nas aulas de reflexão artística em 2009, logo que entrei para o
curso de Licenciatura em Artes, levantei um vídeo, o qual, naquele momento me
deixou profundamente revoltado. O vídeo é a “performance” de um grupo de artistas
denominado Chelpa Ferro (https://www.youtube.com/watch?v=9nSXFsvDwi4), o
qual foi realizado na 25ª Bienal de São Paulo.
Como um apreciador de automóveis antigos, fiquei
triste em ver que há pessoas tão ousadas que se dão ao luxo de tal fato!
Compartilhei o vídeo neste blog, criado para possíveis discussões de turma (http://reflexaoartistica.blogspot.com.br/2009/06/o-que-e-arte.html).
Até o final do curso, consegui amadurecer
minhas ideias e constatei que o meu ponto de vista estava equivocado (não que
destruir um “clássico nacional” seja algo fácil de aceitar), pois a destruição
é apenas uma característica, uma fração da poética do artista.
Noutro momento parei para
pensar que, destruir um Maverick, é muito significativo, pois se trata de um
carro ano 1974. Mas e daí?
O que houve em 74? Qual é a
marca do automóvel? O que tudo isso significa no contexto brasileiro? Entre
tantas outras questões, que facilmente podemos responder.
Então o que significa destruir um maverick?
O maverick vale mais como automóvel ou como
obra de arte?
Agora, neste caso (http://tabloidebr.com.br/universitario-pretende-perder-virgindade-anal-em-performance-artistica/),
a primeira impressão é indignante, pois fere a moral e os bons costumes.
Então, pensemos:
De onde ele é?
-“É da
Inglaterra professor”!
Responde o aluno.
- “Muito bem querido aluno”!
Responde o professor.
A Inglaterra é conhecida, ou ficou conhecida,
por sua “educação”, a qual Éça de Queiroz retrata na obra “Os Maias”
(fragmentos podem ser lidos neste site: http://www.infopedia.pt/$educacao-em-os-maias;jsessionid=LNNve7DJDfMRNjaG+w5Trw__ )
Palco de grandes acontecimentos, a
Inglaterra, sofreu revoluções, entre elas a industrial, e mais recentemente o
caso Banksy, o qual considero como a maior obra da Crítica de Arte do século
XXI.
Se um acadêmico de Artes da UEPG, tivesse a
mesma ideia, não teria a mesma repercussão. Pois a erva é colhida no interior
do Paraná, mas o chá é inglês.
Essa é uma das questões que podemos levantar,
outra é sobre a institucionalização.
Ainda podemos nos questionar, da seguinte
maneira:
O que é uma obra de arte?
O que representa um nome para o mundo da arte?
Qual é a relação, disso tudo com a realidade?
Um texto é a representação da realidade?
Aquela fotografia é o acadêmico?
O que é virgindade?
De que vale ter um corpo casto e uma mente
corrompida?
E podemos ir além!
Até me lembrei da obra de René Magritte,
“Isto não é um cachimbo”, a qual motivou Michael Foucault a escrever um livro
homônimo, no qual traça inúmeras reflexões, é como se ele nos dissesse
“abandonem tudo o que foi construído em vocês, leiam novamente, interpretem e
critiquem, reflitam e tornem a ler, não admitam que o processo acabe, pois
nunca acaba, a vida é dinâmica, por isso não podemos nos permitir parar e
aceitar uma idéia como sendo verdadeira, somente por comodismo”.
Para Foulcault, “ser livre é fugir da
servidão de si mesmo”. Ainda estamos presos às palavras e a tantos conceitos
formados, ao ponto de um artigo (sabe-se lá, legítimo ou não), nos afetar.
Podemos considerar que esse “piá”, chamado
Clayton Pettet, um acadêmico da Saint Martins Art School, de Londres, esta
exercendo a função de artista, ao nos brindar com uma obra conceitual, a qual,
já esta em ação. A tal “performance”,
como ato não significa nada, nem precisa existir. A arte já esta acontecendo e
ainda estamos participando. Se essa ideia for legítima, eu tiro o meu chapéu
para esse artista, pois instigou-nos á reflexão. Mas se de fato ocorrer a tal
“performance” eu o desconsiderarei, pois ele ainda sofre a “servidão de si
mesmo”, ainda esta preso as velhas concepções da arte e como artista é um belo
canastrão.
A Arte não precisa ser materializada para se
constituir.
A arte é a busca empreitada pelo espírito por
Humanidade.